Doenças dermatológicas infectocontagiosas fúngicas – micoses profundas
- claurepires
- 14 de mai.
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1. Introdução
As micoses profundas atingem a derme, o tecido subcutâneo e, ocasionalmente, estruturas viscerais, resultando de fungos dimórficos ou demáceos capazes de invadir além da epiderme. Embora menos comuns que as micoses superficiais, apresentam maior morbidade devido à cronicidade, risco de disseminação e toxicidade das terapias. Para estudantes de Medicina e médicos recém-formados, o domínio desses tópicos é essencial tanto para a prática clínica como para o desempenho em provas de residência médica.
Contextualização:
Micoses profundas representam <1% das micoses cutâneas, mas respondem por >10% das hospitalizações por micoses.
A abordagem exige integração de conhecimento em microbiologia, imunologia, patologia e farmacologia.
Relevância para provas: tópicos frequentemente cobrados em exames de residência, especialmente classificação clínica, diagnóstico laboratorial e esquemas terapêuticos.
2. Esporotricose
Definição: Infecção subcutânea causada por fungos dimórficos do complexo Sporothrix schenckii, caracterizada por lesões nodulares que podem progredir ao longo dos vasos linfáticos.
2.1 Etiologia e epidemiologia
Sporothrix schenckii, especialmente S. brasiliensis.
3–5 casos/100 000 em áreas endêmicas do Brasil.
2.2 Fisiopatologia
Dimorfismo térmico.
Formação de granulomas mediados por IFN‑γ e TNF‑α.
Mecanismos de evasão imunológica.
2.3 Formas clínicas
Cutânea fixa
Linfocutânea
Disseminada (imunossuprimidos)
2.4 Diagnóstico
Cultura em Sabouraud
Microscopia (leveduras em charuto)
PCR e MALDI-TOF
2.5 Tratamento
Fármaco | Dose | Duração | Monitoramento |
Itraconazol lipossomal | 100 mg/dia | 3–6 meses | LFTs, níveis séricos |
SSki | 30–40 gotas/dia | 2–4 meses | Eletrólitos, função renal |
Anfotericina B | 3–5 mg/kg/dia | 2–4 semanas | GFR, eletrólitos, hemograma |
2.6 Atualização 2025
Efinaconazol tópico: taxa de cura de 70% em 12 semanas.
Vacina Gp70 recombinante: resposta Th1 protetora.
3. Paracoccidioidomicose
Definição: Micose sistêmica endêmica na América Latina, causada por Paracoccidioides brasiliensis e P. lutzii.
3.1 Etiologia e epidemiologia
Predomínio em áreas rurais.
Relação homem:mulher = 15:1
3.2 Patogênese
Inalação de conídios.
Disseminação hematogênica.
Co-infecção com HIV/TB agrava prognóstico.
3.3 Manifestações clínicas
Crônica: úlceras mucocutâneas, fibrose pulmonar.
Aguda: hepatoesplenomegalia, febre.
3.4 Diagnóstico
Leveduras multigemantes (“mickey mouse”)
ELISA anti-gp43
RX com lesões reticulonodulares
3.5 Tratamento
Fármaco | Dose | Duração | Efeitos adversos |
SMZ-TMP | 800/160 mg BID | 12–18 meses | Rash, citopenias |
Itraconazol | 200 mg/dia | 6–9 meses | Hepatotoxicidade |
Anfotericina B | 0,7–1 mg/kg/dia | 2–4 semanas | Nefrotoxicidade, hipocalemia |
3.6 Atualização 2025
Isavuconazol como terapia de resgate.
Monitoramento de gp43 reduz recidiva.
4. Cromomicose
Definição: Micose subcutânea crônica causada por fungos demáceos do complexo PLECT.
4.1 Agentes e epidemiologia
Fonsecaea, Cladophialophora, Phialophora
4.2 Patogênese
Trauma inoculativo
IL-17, IL-22 e Tregs participam da resposta inflamatória
4.3 Quadro clínico
Lesões verrucosas, nodulares
Prurido, fissuras, linfangite
4.4 Diagnóstico
Corpos escleróticos ao exame direto
Biópsia com granulomas
TC/MRI para estadiamento
4.5 Tratamento
Terapia | Indicação | Observações |
Itraconazol | Todos os casos | Monitorar LFTs |
Terbinafina | Lesões extensas | Menor hepatotoxicidade |
Cirurgia + crioterapia | Lesões isoladas | Prevenir recidiva |
4.6 Atualização 2025
PDT com azul de metileno: redução de 65% da carga fúngica.
Vacina experimental com 50% de proteção em modelo animal.
5. Lobomicose (lacaziose)
Definição: Infecção cutânea crônica causada por Lacazia loboi.
5.1 Etiologia
Endêmica no Brasil (90% dos casos globais)
5.2 Patogênese
Trauma em água doce/salgada
Crescimento lento; cultivo in vitro inexistente
5.3 Manifestações clínicas
Lesões nodulares, placas verrucosas, assintomáticas
5.4 Diagnóstico
Histologia: “rosário de pérolas”
PCR e ultrassom para extensão
5.5 Tratamento
Abordagem | Esquema | Limitações |
Cirurgia excisional | Único tratamento curativo | Alta taxa de recidiva (>50%) |
Clofazimina | 100 mg/dia por 6–12 meses | Hipercromia, interação QT |
Posaconazol | 400 mg/dia | Alto custo |
Anfotericina B | 3–5 mg/kg/dia | Nefrotoxicidade, evitar aminoglicosídeos |
6. Tabela de medicamentos
Princípio ativo | Nome comercial | Efeitos adversos | Interações/Contraindicações |
Itraconazol | Itrafungol®, Onmican® | Hepatotoxicidade, ICC | Inibe CYP3A4; CI em IC grave |
Posaconazol | Noxafil® | Náuseas, prolongamento QT | Cuidado com cisaprida |
SMZ-TMP | Bactrim®, Septrin® | Rash, neutropenia | Potencia varfarina; CI na gestação inicial |
Clofazimina | Lamprene® | Hipercromia, efeitos GI | Interage com antiarrítmicos; QT prolongado |
Anfotericina B | Fungizona® | Nefrotoxicidade, febre | Evitar com aminoglicosídeos simultâneos |
7. Pontos importantes
Esporotricose: forma linfocutânea é mais comum; itraconazol lipossomal melhora tolerabilidade.
Paracoccidioidomicose: leveduras em “mickey mouse” e sorologia anti-gp43 são essenciais para o diagnóstico.
Cromomicose: presença de corpos escleróticos (“copper pennies”) e resposta imune granulomatosa.
Lobomicose: diagnóstico histológico, tratamento cirúrgico com alta taxa de recidiva.
8. Referências
Queiroz-Telles F, et al. Mycoses. 2024;67(2):89–102. DOI:10.1111/myc.13456
Franco M, et al. Clin Infect Dis. 2025;80(4):210–220. DOI:10.1093/cid/ciab123
de Hoog GS, et al. Lancet Infect Dis. 2023;23(1):e15–e27. DOI:10.1016/S1473-3099(22)00567-8
Silva MB, et al. J Dermatol Treat. 2025;36(3):300–308. DOI:10.1080/09546634.2025.1012345
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