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Doença hepática: nova nomeclatura e novos critérios diagnósticos


Doença hepática: nova nomeclatura e novos critérios diagnósticos

Um grupo de especialistas do mundo inteiro, composto principalmente por pesquisadores em hepatologia e clínicos, anunciou uma proposta inédita para renomear a condição médica conhecida como "esteatose hepática sem relação com bebidas alcoólicas" ou, em inglês, "nonalcoholic fatty liver disease" (NAFLD).


De acordo com a nova nomenclatura, publicada no periódico Hepatology, a doença será chamada de "metabolic dysfunction-associated liver disease" (MASLD) em inglês, o que, em português, pode ser traduzido como "doença hepática com disfunção metabólica" ou "hepatopatia com disfunção metabólica".


Essa proposta também inclui a introdução do termo genérico "steatotic liver disease" (SLD), que engloba a condição de esteatose hepática e abrange a "metabolic dysfunction-associated steatotic liver disease" e o novo termo "MetALD". O último descreve pacientes com doença hepática que apresentam esteatose e disfunção metabólica e consomem mais de 140 gramas (mulheres) ou 210 gramas (homens) de bebidas alcoólicas por semana.


A esteatoepatite com disfunção metabólica, também conhecida como hepatite com esteatose e disfunção metabólica, receberá a nova classificação de "metabolic dysfunction-associated steatohepatitis" (MASH), substituindo o termo anteriormente utilizado, "esteatoepatite não alcoólica" ou "nonalcoholic steatohepatitis" (NASH).


Alterações necessárias para melhor refletir a disfunção metabólica associada à doença


A Dra. Mary E. Rinella, da University of Chicago Medicine, liderou o grupo de especialistas responsáveis por essa mudança. Segundo ela e seus colegas, as alterações na nomenclatura eram necessárias para melhor refletir a disfunção metabólica associada à doença, e também para evitar o estigma potencial gerado pelos termos antigos, como "doença hepática gordurosa" e "sem relação com bebidas alcoólicas".


De acordo com a nova proposta, os pacientes diagnosticados com doença hepática que apresentam esteatose e disfunção metabólica devem apresentar algum fator de risco cardiometabólico, como o diabetes tipo 2. Por outro lado, aqueles sem alterações metabólicas conhecidas serão classificados como tendo "esteatose hepática criptogênica".


Apesar das mudanças, a nova nomenclatura preserva, em grande parte, as definições existentes para as doenças. No entanto, permite o consumo de bebidas alcoólicas acima dos limites atuais para formas da doença não relacionadas ao álcool. Essa abertura é especialmente importante, uma vez que há pessoas com fatores de risco de esteatose hepática que ingerem mais bebidas alcoólicas do que os limiares usados para definir a natureza não alcoólica da doença, e, por esse motivo, são frequentemente excluídas de estudos e avaliações de tratamento.


Os especialistas destacam ainda que existe um continuum na esteatose hepática com disfunção metabólica, podendo ser conceitualmente vista tanto como uma esteatose hepática com disfunção metabólica quanto como uma hepatopatia predominantemente com esteatose, o que pode variar ao longo do tempo para um mesmo paciente.


Os entrevistados também concordam que mesmo o consumo moderado de bebidas alcoólicas altera a história natural da doença, e, portanto, pacientes com maior consumo de álcool devem ser analisados separadamente em ensaios clínicos.


A proposta de nova nomenclatura é resultado de um trabalho conjunto de três anos envolvendo cerca de 236 especialistas de 56 países, incluindo pediatras, gastroenterologistas, endocrinologistas e representantes dos pacientes. As mudanças foram baseadas em consenso com mais de 2/3 dos especialistas (67% ou mais). Durante as etapas iniciais das pesquisas, apenas 44% dos entrevistados consideraram a palavra "gordurosa" pejorativa, enquanto um número maior de especialistas considerou problemático o termo "sem relação com bebidas alcoólicas".


Os especialistas salientaram que o objetivo da nova terminologia é evitar termos que possam estigmatizar os pacientes, promovendo maior conscientização sobre a doença, especialmente no momento em que novos tratamentos estão surgindo, tornando-se crucial identificar pacientes em risco.


Preocupação em não invalidar dados anteriores


Uma preocupação importante dos especialistas era garantir que as novas definições não invalidassem os dados anteriores de prontuários e ensaios clínicos. Após análise, os autores confirmaram que cerca de 98% das pessoas registradas em uma coorte europeia de doenças hepáticas com esteatose e sem relação com bebidas alcoólicas atenderiam aos novos critérios de doença hepática com disfunção metabólica. Assim, a manutenção do termo e da definição clínica da esteatoepatite assegura a validade dos dados prévios para futuras pesquisas e estudos com pacientes diagnosticados de acordo com a nova nomenclatura.


A coordenação desse trabalho pioneiro ficou a cargo de três sociedades hepáticas internacionais: La Asociación Latinoamericana para el Estudio del Hígado, a American Association for the Study of Liver Diseases e a European Association for the Study of the Liver, em colaboração com os codiretores da Non-alcoholic fatty liver disease Nomenclature Initiative.


Embora o consenso tenha sido alcançado quanto ao termo em inglês, ainda há a necessidade de adaptação para o português. É importante esclarecer que as traduções automáticas frequentemente introduzem construções linguísticas estranhas ao nosso idioma, como a utilização de advérbios de negação diretamente antes de um substantivo. Para evitar essas construções inadequadas, sugere-se traduzir "nonalcoholic hepatitis" como "hepatite sem ingestão de bebidas alcoólicas", "hepatite sem ingestão de álcool etílico" ou, de maneira mais coloquial, como "hepatite abstêmia".


As novas nomenclaturas propostas, bem como suas equivalências em português, refletem um avanço significativo no entendimento e tratamento da doença hepática com disfunção metabólica, oferecendo uma perspectiva mais abrangente para o diagnóstico e acompanhamento dos pacientes.


Novas nomenclaturas e suas possíveis equivalências em português

  • MASLD ou metabolic dysfunction-associated liver disease :

    • doença hepática com disfunção metabólica

    • hepatopatia com disfunção metabólica


  • SLD ou steatotic liver disease:

    • esteatose hepática, que engloba:

      • metabolic dysfunction-associated steatotic liver disease :

        1. estea­tose hepática com disfunção metabólica

        2. hepatopatia com esteatose e disfunção metabólica

(Pela nova nomenclatura, as pessoas com doença hepática com esteatose e disfunção metabólica precisam ter algum fator de risco cardiometabólico, como o diabetes tipo 2.)

(Os pacientes sem alterações metabólicas e sem etiologia conhecida serão classificados como tendo esteatose hepática criptogênica.)

  • MetALD ou metabolic alcoholic liver disease : a. doença hepática com esteatose e disfunção metabólica em pessoas que ingerem bebidas alcoólicas (ver descrição acima)


  • MASH ou metabolic dysfunction-associated steatohepatitis:

    • esteatoepatite com disfunção metabólica

    • hepatite com esteatose e disfunção metabólica (em substituição a NASH ou nonalcoholic steatohepatitis. )



Da mesma maneira que foi adotada uma nomenclatura única pelo continente americano de língua espanhola e inglesa e pelo continente europeu de língua inglesa, é fundamental que no Brasil adotemos, de forma homogênea, não a tradução literal dos termos, mas sua equivalência no nosso idioma.


Cada um dos autores do consenso revelou uma série de potenciais conflitos de interesse.


(Com informações originais do MDedge.com ─ Medscape Professional Network.)

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