Mononucleose: a "doença do beijo" ainda existe e você precisa conhecer os sintomas
- medicinaatualrevis
- 27 de jun.
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A mononucleose, popularmente conhecida como "doença do beijo", é uma infecção viral que continua sendo uma realidade médica atual, afetando principalmente adolescentes e jovens adultos. Apesar de seu apelido romântico, esta condição pode causar sintomas significativos e requer atenção médica adequada.
Compreender o que é a mononucleose, como se transmite e quais são seus sintomas é fundamental para reconhecer a doença precocemente e buscar tratamento apropriado. Embora geralmente não seja grave, pode causar complicações se não for adequadamente manejada.
O que é mononucleose: entendendo a doença do beijo
A mononucleose infecciosa é uma doença viral causada principalmente pelo vírus Epstein-Barr (EBV), que pertence à família dos herpesvírus. Este vírus é extremamente comum, infectando mais de 90% da população mundial em algum momento da vida, embora nem todos desenvolvam sintomas da doença.
O nome "doença do beijo" surgiu porque uma das principais formas de transmissão é através da saliva, especialmente durante beijos íntimos. No entanto, a mononucleose pode ser transmitida por outras vias, incluindo compartilhamento de utensílios, tosse, espirros e contato próximo com pessoas infectadas.
A doença afeta principalmente o sistema linfático, causando inflamação dos linfonodos, baço e fígado. Embora possa ocorrer em qualquer idade, é mais comum entre adolescentes e adultos jovens de 15 a 25 anos.
Causas e formas de transmissão da mononucleose
Vírus Epstein-Barr: o principal culpado
O vírus Epstein-Barr é responsável por aproximadamente 90% dos casos de mononucleose. Este vírus tem a capacidade de permanecer latente no organismo após a infecção inicial, podendo reativar-se em situações de imunidade baixa, embora raramente cause sintomas novamente.
Outros vírus também podem causar mononucleose, incluindo o citomegalovírus (CMV), vírus da hepatite A, B e C, e outros vírus da família herpes. No entanto, o quadro clínico é similar independentemente do vírus causador.
Como a mononucleose se espalha
A mononucleose é altamente contagiosa e pode ser transmitida através de várias formas de contato. A saliva é o principal veículo de transmissão, razão pela qual a doença ganhou o apelido de "doença do beijo". O vírus pode sobreviver na saliva por meses após a infecção inicial.
Outras formas de transmissão incluem compartilhamento de copos, talheres, escovas de dente ou outros objetos que entram em contato com a saliva, gotículas respiratórias liberadas durante tosse ou espirros, transfusão de sangue (raro), e transplante de órgãos (muito raro).
Sintomas da mononucleose: reconhecendo os sinais
Sintomas iniciais da doença do beijo
Os primeiros sintomas da mononucleose geralmente aparecem entre 4 a 6 semanas após a exposição ao vírus. O período inicial pode ser caracterizado por sintomas inespecíficos que podem ser confundidos com outras infecções virais.
Os sintomas iniciais incluem mal-estar geral e sensação de estar "gripado", fadiga leve que pode ser atribuída ao estresse ou cansaço, dor de cabeça intermitente, perda de apetite, e febre baixa que pode passar despercebida.
Sintomas característicos da mononucleose
Conforme a mononucleose se desenvolve, surgem sintomas mais específicos e característicos da doença. A dor de garganta é um dos sintomas mais proeminentes, frequentemente descrita como uma das piores dores de garganta que a pessoa já experimentou.
A febre pode atingir temperaturas elevadas, geralmente entre 38°C e 40°C, e pode persistir por várias semanas. O aumento dos linfonodos, especialmente no pescoço, é outro sinal característico, podendo causar desconforto significativo e dificuldade para engolir.
Fadiga extrema: o sintoma mais debilitante
A fadiga associada à mononucleose é frequentemente o sintoma mais debilitante e duradouro da doença. Diferentemente do cansaço comum, esta fadiga é profunda e não melhora com repouso adequado.
Os pacientes frequentemente descrevem uma sensação de exaustão completa, dificuldade para realizar atividades básicas do dia a dia, necessidade de dormir muito mais que o habitual, e sensação de fraqueza que pode persistir por semanas ou meses.
Sintomas físicos específicos da mononucleose
Alterações na garganta e boca
A mononucleose causa alterações características na garganta e boca que podem ajudar no diagnóstico. A garganta apresenta-se muito vermelha e inflamada, frequentemente com placas brancas ou amareladas nas amígdalas, semelhantes às da faringite estreptocócica.
Pode haver também aumento significativo das amígdalas, dificultando a deglutição, presença de petéquias (pequenos pontos vermelhos) no céu da boca, e mau hálito persistente devido à inflamação e presença de placas.
Aumento do baço e fígado
Um dos aspectos mais preocupantes da mononucleose é o aumento do baço (esplenomegalia), que ocorre em aproximadamente 50% dos casos. O baço aumentado pode causar dor no lado esquerdo do abdome, sensação de plenitude abdominal, e risco de ruptura em caso de trauma.
O fígado também pode aumentar de tamanho (hepatomegalia), embora seja menos comum que o aumento do baço. Isso pode causar desconforto no lado direito do abdome e, raramente, icterícia (coloração amarelada da pele e olhos).
Erupções cutâneas
Embora não seja um sintoma universal, algumas pessoas com mononucleose podem desenvolver erupções cutâneas. Estas podem aparecer espontaneamente ou, mais comumente, após o uso de antibióticos como ampicilina ou amoxicilina.
A erupção geralmente é maculopapular (pequenas manchas vermelhas elevadas) e pode cobrir grande parte do corpo. É importante não confundir esta erupção com uma reação alérgica aos antibióticos.
Complicações possíveis da mononucleose
Complicações comuns
Embora a mononucleose seja geralmente uma doença benigna, podem ocorrer complicações que requerem atenção médica. A ruptura do baço é uma das complicações mais graves, embora rara, podendo ser fatal se não tratada imediatamente.
Outras complicações incluem obstrução das vias aéreas devido ao aumento das amígdalas, hepatite com elevação das enzimas hepáticas, anemia devido à destruição de glóbulos vermelhos, e trombocitopenia (diminuição das plaquetas).
Complicações neurológicas
Em casos raros, a mononucleose pode causar complicações neurológicas, incluindo meningite ou encefalite, síndrome de Guillain-Barré, paralisia facial, e convulsões. Estas complicações são mais comuns em pessoas com sistema imunológico comprometido.
Diagnóstico da mononucleose
Exames clínicos e laboratoriais
O diagnóstico da mononucleose baseia-se na combinação de sintomas clínicos e exames laboratoriais. O exame físico pode revelar linfonodos aumentados, aumento do baço ou fígado, e alterações características na garganta.
Os exames laboratoriais incluem hemograma completo, que pode mostrar aumento dos linfócitos atípicos, teste de monospot (teste rápido para anticorpos heterófilos), exames específicos para vírus Epstein-Barr, e testes de função hepática.
Diagnóstico diferencial
É importante diferenciar a mononucleose de outras condições que podem causar sintomas similares, como faringite estreptocócica, outras infecções virais, linfomas, e leucemia. O médico pode solicitar exames adicionais para excluir estas condições.
Tratamento da mononucleose
Tratamento sintomático
Não existe tratamento específico para a mononucleose, sendo o manejo focado no alívio dos sintomas e prevenção de complicações. O repouso é fundamental, especialmente durante as primeiras semanas da doença.
O tratamento sintomático inclui uso de analgésicos e antipiréticos para controlar dor e febre, anti-inflamatórios para reduzir a inflamação da garganta, gargarejos com água morna e sal, e hidratação adequada.
Cuidados especiais e restrições
Durante a mononucleose, especialmente quando há aumento do baço, é fundamental evitar atividades físicas intensas e esportes de contato para prevenir ruptura esplênica. Esta restrição deve ser mantida até que o baço retorne ao tamanho normal.
Outras recomendações incluem evitar álcool para proteger o fígado, manter isolamento durante a fase aguda para evitar transmissão, e retorno gradual às atividades normais conforme melhora dos sintomas.
Prevenção da mononucleose
Medidas preventivas básicas
A prevenção da mononucleose baseia-se principalmente em medidas de higiene e evitar contato próximo com pessoas infectadas. Isso inclui não compartilhar utensílios, copos ou talheres, evitar beijos íntimos com pessoas infectadas, lavar as mãos frequentemente, e evitar contato próximo durante a fase aguda da doença.
Fortalecimento do sistema imunológico
Manter o sistema imunológico forte pode ajudar a prevenir a infecção ou reduzir a gravidade dos sintomas. Isso inclui alimentação balanceada rica em vitaminas e minerais, exercícios regulares (quando não infectado), sono adequado, controle do estresse, e evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool.
Prognóstico e recuperação
Tempo de recuperação
A recuperação da mononucleose varia significativamente entre indivíduos. A fase aguda geralmente dura de 2 a 4 semanas, mas a fadiga pode persistir por meses. A maioria das pessoas se recupera completamente sem sequelas.
É importante ter paciência durante o processo de recuperação e não forçar o retorno às atividades normais antes que o corpo esteja pronto. O retorno gradual às atividades é recomendado.
Imunidade após a infecção
Após a infecção por mononucleose, a pessoa desenvolve imunidade duradoura contra o vírus Epstein-Barr, sendo muito raro ter a doença novamente. No entanto, o vírus permanece latente no organismo e pode reativar em situações de imunossupressão.
A mononucleose continua sendo uma realidade médica atual que afeta principalmente jovens. Reconhecer seus sintomas, buscar tratamento adequado e seguir as recomendações médicas são fundamentais para uma recuperação completa e prevenção de complicações.
Embora seja conhecida como "doença do beijo", é importante entender que a mononucleose é uma condição médica séria que requer cuidados apropriados. Com o manejo adequado, a maioria das pessoas se recupera completamente e desenvolve imunidade duradoura contra a doença.
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