OMS publica primeiras diretrizes globais para diagnóstico e tratamento da meningite
- medicinaatualrevis
- 22 de abr.
- 4 min de leitura

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou no dia 10 de abril suas primeiras diretrizes globais para o diagnóstico, tratamento e cuidados da meningite.
O objetivo principal é acelerar a detecção, garantir o tratamento oportuno e melhorar os cuidados de longo prazo, especialmente nos casos de meningite bacteriana, a forma mais grave da doença.
Apesar da existência de vacinas e tratamentos eficazes, a meningite ainda representa uma ameaça significativa à saúde global. Em 2019, foram registrados cerca de 2,5 milhões de casos de meningite em todo o mundo, incluindo 1,6 milhão de casos de meningite bacteriana, que resultaram em aproximadamente 240 mil mortes.
Além do alto risco de óbito (cerca de 1 a cada 6 pacientes), 20% dos sobreviventes podem desenvolver complicações de longo prazo, como deficiências auditivas, motoras ou cognitivas. Os impactos da doença vão além do aspecto clínico, gerando também custos sociais e econômicos elevados para famílias e comunidades.
As novas diretrizes da OMS cobrem todos os aspectos do cuidado clínico, desde o diagnóstico e antibioticoterapia até o acompanhamento de efeitos a longo prazo. Elas são direcionadas ao atendimento de crianças com mais de um mês, adolescentes e adultos com meningite aguda adquirida, tanto de origem bacteriana quanto viral.
A iniciativa faz parte do Plano Global "Derrotando a Meningite até 2030", aprovado pelos Estados-Membros da OMS em 2020, que visa eliminar as epidemias de meningite bacteriana, reduzir os casos em 50% e as mortes em 70%.
A maior carga da doença está concentrada em países de baixa e média renda, especialmente no chamado “cinturão da meningite” na África Subsaariana, região que enfrenta epidemias recorrentes de meningite meningocócica.
O que é a meningite bacteriana?
A meningite bacteriana é uma doença infecciosa grave caracterizada pela inflamação das meninges, as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Diferente de outras formas de meningite, como a viral, a bacteriana apresenta maior risco de sequelas neurológicas permanentes e é considerada uma emergência médica.
A rapidez no reconhecimento dos sintomas e o tratamento imediato com antibóticos adequados são essenciais para evitar complicações e reduzir a mortalidade. Neste artigo, você vai entender como a meningite bacteriana se manifesta, como é feito o diagnóstico, quais os principais agentes envolvidos, opções terapêuticas e medidas de prevenção.
Principais causas da meningite bacteriana
A doença pode ser causada por diferentes bactérias, dependendo da faixa etária e do contexto epidemiológico. As principais são:
Streptococcus pneumoniae (pneumococo): mais comum em adultos e crianças menores de 5 anos;
Neisseria meningitidis (meningococo): pode causar surtos e é mais frequente em adolescentes e adultos jovens;
Haemophilus influenzae tipo b (Hib): mais comum antes da vacinação em massa;
Listeria monocytogenes: importante em imunossuprimidos, gestantes e idosos.
A meningite pode surgir de forma primária ou secundária a infecções respiratórias, otites, sinusites ou traumas cranianos.
Transmissão e grupos de risco
A transmissão ocorre, em geral, por contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas, especialmente em ambientes fechados e com aglomeração.
Os grupos mais vulneráveis incluem:
Crianças menores de 5 anos;
Adolescentes e jovens em escolas e universidades;
Idosos;
Pessoas imunocomprometidas;
Indivíduos não vacinados.
Sintomas da meningite bacteriana
Os sintomas podem se desenvolver rapidamente, e a evolução é frequentemente fulminante. Entre os principais sinais e sintomas estão:
Febre alta;
Dor de cabeça intensa;
Rigidez de nuca;
Vômitos;
Fotofobia (sensibilidade à luz);
Confusão mental;
Convulsões.
Sonolência ou coma.
Em bebês e crianças pequenas, os sintomas podem ser inespecíficos, como irritabilidade, gemido constante, recusa alimentar e abaulamento da fontanela.
Diagnóstico da meningite bacteriana
O diagnóstico é clínico e laboratorial. Inclui:
Exame físico neurológico detalhado;
Punção lombar para análise do líquido cefalorraquidiano (LCR);
Hemoculturas;
Exames de imagem (tomografia de crânio) quando há sinais de hipertensão intracraniana.
A análise do LCR revela:
Pleocitose com predomínio de neutrófilos;
Aumento de proteínas;
Diminuição da glicose.
O Gram e a cultura do LCR são importantes para identificar o agente etiólogico e guiar o tratamento.
Tratamento da meningite bacteriana
O tratamento é uma emergência e deve ser iniciado o mais rapidamente possível.
Antibióticos
A escolha empírica depende da idade do paciente e do perfil epidemiológico:
Ceftriaxona ou cefotaxima são as drogas de primeira linha;
Vancomicina pode ser associada em casos de resistência;
Ampicilina é adicionada em imunossuprimidos para cobrir Listeria.
Corticoides
A dexametasona pode ser usada antes ou junto com o primeiro antibótico para reduzir complicações como perda auditiva, especialmente nos casos por pneumococo.
Cuidados de suporte
Hidratação adequada;
Controle de febre e convulsões;
Monitoramento em UTI nos casos graves.
Possíveis complicações
Mesmo com tratamento, a meningite bacteriana pode deixar sequelas:
Surdez permanente;
Déficits motores e cognitivos;
Hidrocefalia;
Epilepsia;
Choque séptico.
A taxa de mortalidade varia entre 10% e 20%, podendo ser maior em pacientes imunossuprimidos ou com tratamento tardio.
Prevenção
A prevenção passa principalmente pela vacinação, além de medidas de higiene e controle de contatos.
Vacinas disponíveis no Brasil:
Vacina pneumocócica 10-valente (VPC10);
Vacina meningocócica C conjugada (e ACWY em casos específicos);
Vacina Hib.
O esquema vacinal é parte do Calendário Nacional de Imunização, com reforços em adolescentes e grupos de risco.
Profilaxia em surtos
Contatos próximos de pacientes com meningite meningocócica devem receber quimioprofilaxia com rifampicina, ciprofloxacino ou ceftriaxona, conforme a idade e situação epidemiológica.
Conclusão
A meningite bacteriana é uma doença grave, potencialmente letal, mas com chances reais de prevenção e tratamento eficaz se diagnosticada precocemente.
A atenção aos sintomas, o conhecimento sobre as formas de transmissão e a adesão à vacinação são fundamentais para proteger a população, especialmente os mais vulneráveis.
A atuação rápida dos profissionais de saúde e o acesso à informação são aliados essenciais no combate à meningite.
Comments