As aplicações da inteligência artificial (IA) na Medicina estão evoluindo rápido. Saber como essas ferramentas estão sendo impltandas e conhecer o impacto desses recursos em diversas áreas, assim como as consequencias e os desafios do uso da IA, é algo que interessa a todo.
O portal Medicina Atual reproduz aqui pesquisa realizada pelo Medscape, no início de 2024. O Medscape entrevistou 1.279 médicos e médicas em atividade no Brasil para saber o que pensam e sentem sobre a integração da IA à prática clínica. O conjunto dessas respostas contribui para o conhecimento da inserção da IA no ambiente de trabalho médico e auxilia na implementação dessa tecnologia inovadora.
Conheça os principais resultados do levantamento Os médicos e a inteligência artificial - Brasil (2024) nos quadro a seguir.
A maioria conhece pouco, mas valoriza o apredizado sobre o tema. Metade dos entrevistados com menos de 45 anos admite saber muito pouco sobre o assunto; entre os participantes acima dessa faixa etária, 55% fizeram a mesma afirmação. No grupo dos profissionais que atuam em consultório, 54% disseram ter um nível baixo de conhecimento do tema, enquanto 52% dos que trabalham em hospital deram a mesma resposta. entre os homens, 9% disseram ter um nível de conhecimento alto versus 4% das mulheres. A proporção de clínicos gerais que declaram alto conhecimento sobre o assunto foi maior que a de especialistas: 10% vs. 7%, respectivamente.
A Inteligência Artificial (IA) já está sendo mais aceita e utilizada em funções administrativas e de processamento de informações na área da saúde, como a pesquisa de quadros clínicos (20%) e o agendamento de pacientes (11%). Essas áreas se beneficiam da capacidade da IA de analisar grandes volumes de dados e automatizar processos, aumentando a eficiência e a precisão nas operações. Além disso, a organização das escalas de equipe (8%) e o preenchimento de prontuários eletrônicos (8%) mostram uma adoção considerável, revelando que há confiança na IA para melhorar a gestão na saúde.
É possível observar uma importante resistência ao uso da IA em tarefas que envolvem interação direta com pacientes, como o suporte ao tratamento (4%) e a predição do prognóstico (5%). Mesmo assim, o uso da ferramenta na elaboração de anotações clínicas (2%) mostra que há um discreto movimento em direção à automação de tarefas de documentação médica.
A maioria dos entrevistados está disposta a considerar futuramente o uso de IA em tarefas administrativas (75%), agendamento de pacientes (73%), e elaboração de escalas de equipe (72%). Esses números são elevados em comparação com a aceitação do uso da IA para suporte ao tratamento de pacientes, onde 44% considerariam o uso da ferramenta
vs. 52% que não o fariam,
De novo, a resistência é mais evidente em áreas que exigem contato direto com o paciente. O uso da tecnologia na predição do prognóstico, que tem impacto significativo no tratamento, ainda encontra 32% de rejeição entre os entrevistados. A aplicação da IA no suporte ao tratamento direto com pacientes tem uma rejeição de 52%, e a comunicação com pacientes também revela polarização de opiniões, com 46% de recusa da ferramenta.
Esses dados indicam uma hesitação considerável em confiar na IA para tarefas que envolvem decisões clínicas diretas ou interações humanas essenciais.
A maioria dos participantes tem uma percepção positiva sobre o impacto da IA na administração e na manutenção de prontuários, por exemplo, o que reflete a confiança na capacidade da tecnologia para organizar e gerir dados de pacientes com eficiência. A sua aplicação na Interpretação de exames de imagem também é vista de forma favorável, com 71% de opiniões positivas, mostrando confiança de que a IA pode auxiliar substancialmente na análise e na precisão diagnóstica destas avaliações.
Além disso, 64% dos entrevistados consideram positivamente o gerenciamento de risco de erros médicos por meio da 1A — evidenciando a crença de que a tecnologia pode aumentar a segurança e a qualidade do atendimento.
Já a percepção sobre o uso da IA na comunicação com pacientes mostra menos empolgação. Apenas 31% têm uma visão positiva sobre a tecnologia neste contexto, enquanto 37% têm uma percepção negativa, demonstrando uma resistência importante por parte dos respondentes.
No diagnóstico, a IA é bem-aceita por 54%, mas uma parcela de 20%
informou ter uma percepção negativa da IA na realização dessa tarefa.
A relação entre os 65% que estão entusiasmados ou muito entusiasmados com o futuro da IA no ambiente médico e os 35% que se sentem apreensivos é reveladora. Esta distribuição mostra que, embora haja uma maioria otimista quanto ao potencial da IA para revolucionar a
prática médica, existe uma parcela substancial de profissionais que têm reservas ou preocupações com as implicações do uso dessa tecnologia.
Uma porcentagem levemente maior de médicos jovens (67%) está empolgada com os recursos da IA, em comparação com os mais velhos (65%), cujo grande interesse também surpreende.
No outro extremo da escala, um percentual ligeiramente menor de clínicos gerais mostrou apreensão (34%) em relação à IA, quando comparados aos especialistas (35%), possivelmente refletindo preocupações com a forma como a tecnologia pode alterar as práticas gerais da medicina.
A maioria pensa que o uso da IA precisa da supervisão de agências públicas e/ou associações médicas, refletindo preocupações com segurança, ética e eficácia. Entre os mais jovens (< 45 anos), 80% são favoráveis à supervisão, enquanto no grupo dos mais velhos essa proporção é de 67%. Uma porcentagem maior de mulheres (77%) do que de homens (67%) afirmou apoiar essa ideia. A concordância entre os que trabalham em hospitais (79%) foi maior em comparação com os respondentes que atuam em consultórios (65%).
Há, igualmente, um forte consenso defendendo a necessidade de uma legislação para uso de IA na medicina (84%), embora 8% tenham dito que não são favoráveis à regulamentação e outros 8%, que estão indecisos. Entre os mais jovens (< 45 anos), 89% apoiam a criação de um marco legal na área, em comparação com 82% dos respondentes mais velhos (> 45). No grupo das mulheres, o apoio à legislação foi maior (90%) que no grupo dos homens (81%).
A oposição à cobrança de honorários médicos por atendimentos gerados por IA é relativamente baixa (15%), ligeiramente menor entre médicos com menos de 45 anos (11%) e entre os que trabalham em hospitais (12%). Ainda assim, a porcentagem de respondentes que se mostrou indecisa quanto à cobrança sugere que uma parcela importante ainda espera para observar o desempenho da IA nesse tipo de atividade.
A maioria está insegura (44%) em relação à capacidade do Estado e/ou de sociedades médicas conseguirem assegurar a confidencialidade dos dados dos pacientes no uso da IA, e boa parte (32%) não acredita que isso será possível. A incerteza é mais pronunciada entre mulheres (50%) do que entre homens (42%) e maior entre os generalistas (52%) do que
no grupo dos especialistas (43%). Entre os homens, a proporção dos que confiam no sucesso desse controle é de 26%, enquanto 19% das mulheres têm a mesma opinião,
Os médicos participantes da pesquisa foram questionados sobre o grupo de pacientes que já indagaram sobre o uso da IA no hospital ou no consultório. A maioria (75%) respondeu que a opinião destes pacientes sobre o uso da IA na medicina é favorável, enquanto 6%
relataram perceber uma opinião desfavorável, e 19% observaram indiferença.
Há também uma grande expectativa de que a IA possa aliviar a carga de tarefas administrativas e otimizar o gerenciamento de prontuários, atividades que têm peso relevante na rotina médica. Ao todo, 66% dos participantes acreditam que isso os permitirá dedicar mais tempo ao cuidado e à interação com os pacientes, enquanto 13% discordam e 21% ainda não sabem.
A percepção de 83% dos entrevistados sobre a probabilidade de haver equívocos nas informações fornecidas por IA aos pacientes exprime a inquietação dos participantes sobre a acurácia dos dados produzidos pela IA generativa. A possibilidade de os pacientes levarem mais a sério as respostas da IA do que a experiência dos médicos também incomoda a maioria dos participantes (45% estão muito preocupados e 35%, um pouco preocupados), com destaque para os grupos de respondentes mais velhos e do sexo feminino.
No grupo de médicos com menos de 45 anos, há mais entusiasmo com a ideia (19%) do que entre aqueles com 45 anos ou mais (10%). Quase metade dos clínicos gerais (47%) e especialistas (48%) se disseram favoráveis a essa aplicação da tecnologia, mas apenas se houver revisão posterior por um editor humano. Com relação à necessidade de revisão, as proporções de cada resposta foram semelhantes nos grupos de médicos que atuam em consultórios e em hospitais.
Esses dados revelam uma aceitação cautelosa da IA, refletindo a preocupação com a precisão e a qualidade das informações resumidas pela tecnologia.