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A Síndrome Antifosfolípide (SAF) é uma doença autoimune definida no início da década de 1980. As principais características incluem eventos tromboembólicos e/ou perdas gestacionais em associação com anticorpos antifosfolípides (aPL).
Como nota histórica, o quadro completo da síndrome lembra a doença sofrida por Anne Stuart, rainha da Inglaterra no século XVIII, cujos abortos repetidos causaram o fim da linhagem real dos Stuart e da sucessão hanoveriana.
A identificação do aPL começou no início do século XX e esteve ligada à introdução do teste sorológico para o diagnóstico da sífilis. Trata-se de uma reação entre um anticorpo (reagina) e um antígeno fosfolipídico derivado do coração bovino (cardiolipina).
Posteriormente, observou-se que nem todos os indivíduos com teste positivo tinham sífilis, e que a chamada "reação falso-positiva" foi frequentemente relatada em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico.
Posteriormente, foram desenvolvidos diferentes testes para a identificação de aPL: primeiro anticoagulante lúpico (1971) e depois imunoensaios para anticorpos anticardiolipina (1983) e anti-beta2 glicoproteína I (1990).
No mesmo período, foi estabelecida a associação entre a presença de aPL circulante e eventos trombóticos e obstétricos, tanto em pacientes com doenças autoimunes quanto em indivíduos saudáveis, levando à identificação da SAF como uma doença autoimune distinta.
Isso permitiu um melhor diagnóstico e um tratamento mais direcionado para muitos pacientes.
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