Venda de tadalafila cresce 20 vezes no Brasil em 10 anos e levanta alertas sobre uso indiscriminado
- medicinaatualrevis
- 16 de mai.
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Nos últimos dez anos, a venda da tadalafila, medicamento indicado para o tratamento da disfunção erétil, aumentou quase 20 vezes no Brasil. De acordo com dados da Anvisa divulgados pelo G1, o número de unidades comercializadas saltou de 3 milhões em 2015 para um recorde de 64 milhões em 2024.
Além da eficácia clínica, a popularização do fármaco nas redes sociais, apelidado de “tadala”, é apontada como um dos principais responsáveis por esse crescimento expressivo.
A influência das redes sociais e a cultura da performance
Hoje, milhares de vídeos na internet promovem o uso recreativo da tadalafila por jovens e adolescentes antes de encontros sexuais. O medicamento passou a ser tratado como um "potencializador" da performance sexual, com promessas infundadas de aumento peniano e maior duração do ato.
Canções populares e influenciadores impulsionaram essa imagem, e o fácil acesso — já que a venda não exige retenção de receita — contribuiu para sua banalização.
No entanto, especialistas alertam que essa nova forma de consumo reflete uma insegurança masculina diante da sexualidade e da expectativa de desempenho, especialmente entre os mais jovens.
Especialistas também apontam diversos fatores que contribuíram para esse crescimento:
Maior acesso à informação: A disseminação de informações sobre saúde sexual e tratamentos disponíveis aumentou a procura por soluções
Redução do estigma: A discussão mais aberta sobre disfunção erétil contribuiu para que mais homens buscassem tratamento.
Disponibilidade de genéricos: A entrada de versões genéricas da tadalafila no mercado tornou o tratamento mais acessível financeiramente.
Como age a tadalafila no organismo
A tadalafila é um vasodilatador que promove o aumento do fluxo sanguíneo no pênis, facilitando a ereção em homens com disfunção erétil. Sua ação pode durar até 36 horas, o que a diferencia da sildenafila (Viagra).
Embora seja eficaz, seu uso sem prescrição pode mascarar fatores emocionais, como ansiedade ou baixa autoestima, que também impactam a função sexual.
Uso indiscriminado pode gerar dependência emocional
Apesar de não causar dependência química, médicos alertam que o uso frequente da tadalafila pode levar a uma dependência psicológica.
Homens jovens podem passar a acreditar que só conseguem ter uma relação sexual satisfatória com o uso do medicamento, o que, a longo prazo, pode provocar uma disfunção erétil real.
Além dessa reação psicológica, o uso da tadalafila sem orientação médica pode acarretar outros riscos à saúde. Entre os efeitos colaterais possíveis estão:
Cefaleia e indigestão: sintomas comuns que podem afetar a qualidade de vida.
Alterações visuais e auditivas: Há também relatos de perda súbita de visão, associada à neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION), e perda súbita de audição. Embora a relação causal direta não esteja estabelecida, pacientes com fatores de risco subjacentes devem utilizar esses medicamentos com cautela
Interações medicamentosas: O uso concomitante com nitratos ou outros medicamentos pode causar quedas perigosas na pressão arterial.
Priapismo e danos ao tecido erétil: Pacientes com condições predisponentes, como anemia falciforme, mieloma múltiplo ou leucemia, ou com deformações anatômicas do pênis, estão em maior risco de priapismo
É fundamental que o uso da tadalafila seja feito sob supervisão médica, garantindo a segurança e eficácia do tratamento.
Mitos e verdades sobre a tadalafila
Nas redes sociais, o medicamento é cercado por mitos que não se sustentam cientificamente:
Aumenta o tamanho do pênis? Não. O aumento do volume percebido decorre do maior fluxo sanguíneo, mas não há crescimento real do órgão.
Prolonga o tempo de ereção? A duração da ereção não muda. O que melhora é a firmeza e a autoconfiança, reduzindo a ansiedade durante o ato.
Permite várias relações em sequência? Sim, pois reduz o tempo de recuperação entre as relações.
Não tem efeitos colaterais? Embora geralmente seguros, há relatos de cefaleia, alterações visuais e, em casos raros, neuropatia óptica, como registrado em artigo da revista Nature.
Impactos na construção da sexualidade entre adolescentes
Entre os jovens, o uso precoce da tadalafila pode comprometer o desenvolvimento saudável da sexualidade. Ao buscar “performance” antes de entender a intimidade, muitos adolescentes acabam moldando suas experiências com base em padrões irreais, como os vistos na pornografia ou nos relatos de redes sociais.
Essa antecipação interfere na construção de referências pessoais e na capacidade de viver experiências sexuais com afeto, vulnerabilidade e espontaneidade. A especialista afirma que o medo da comparação e a pressão por desempenho acabam distorcendo o que deveria ser uma troca genuína entre parceiros.
Conclusão: é hora de refletir sobre o uso consciente da tadalafila
A popularização da tadalafila no Brasil reflete uma transformação cultural no modo como os homens encaram sua saúde sexual. Por um lado, houve avanço na redução do tabu sobre a disfunção erétil.
Por outro, cresceu o uso recreativo motivado por expectativas irreais de desempenho, que pode afetar a saúde emocional e sexual dos usuários.
Médicos defendem que a tadalafila continue sendo uma aliada no tratamento da disfunção erétil, mas sempre com prescrição e acompanhamento médico. Sexo é mais do que performance: é conexão, troca, intimidade — e não pode ser reduzido a uma pílula.
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