Colesterol alto em pessoas magras: como explicar?
- claurepires
- há 6 dias
- 4 min de leitura

O colesterol alto costuma ser associado ao excesso de peso, má alimentação e sedentarismo. Por isso, quando um paciente magro apresenta níveis elevados de colesterol, a reação mais comum é de surpresa. Afinal, como explicar o colesterol alto em pessoas magras?
Essa situação é mais frequente do que parece e carrega implicações clínicas importantes. O erro comum é subestimar o risco cardiovascular em pacientes com IMC normal, levando à negligência no diagnóstico ou no tratamento.
Neste artigo, vamos abordar as causas, os mecanismos fisiopatológicos e os principais fatores de risco associados ao colesterol alto em pessoas magras, além de discutir como deve ser feita a abordagem médica diante desse achado.
Colesterol alto: conceitos básicos para relembrar
O colesterol é uma gordura essencial para o funcionamento do corpo humano. Ele participa da produção de hormônios, da vitamina D e da estrutura das membranas celulares. No entanto, seu excesso na circulação pode levar à formação de placas de gordura nas artérias — a aterosclerose.
Na prática clínica, os principais parâmetros avaliados no perfil lipídico são:
Colesterol total.
LDL (lipoproteína de baixa densidade) – o “colesterol ruim”.
HDL (lipoproteína de alta densidade) – o “colesterol bom”.
Triglicerídeos.
LDL elevado é o principal fator de risco para eventos cardiovasculares, como infarto e AVC. Já o HDL baixo e os triglicerídeos altos também contribuem para o risco global, especialmente em contextos de resistência à insulina.
Por que pessoas magras também podem ter colesterol alto?
1. Fatores genéticos e hipercolesterolemia familiar
Uma das principais explicações para colesterol alto em pessoas magras é a genética. A hipercolesterolemia familiar é uma condição hereditária que afeta o metabolismo das lipoproteínas, principalmente do LDL.
Pessoas com essa alteração têm níveis de colesterol alto desde o nascimento, independentemente do peso corporal ou dos hábitos de vida. Quando não diagnosticada precocemente, a doença pode evoluir com eventos cardiovasculares prematuros, inclusive em adultos jovens.
Características sugestivas incluem:
História familiar de infarto precoce.
Níveis de LDL persistentemente elevados (>190 mg/dL).
Xantelasmas ou xantomas tendíneos.
Resposta insatisfatória ao tratamento convencional.
2. Alimentação rica em gorduras ruins, mesmo com baixo peso
Muitas pessoas com peso normal ou até abaixo do ideal acreditam que podem comer “de tudo” sem consequências. No entanto, uma dieta rica em gorduras saturadas, gordura trans e carboidratos refinados pode levar à elevação do colesterol, independentemente do IMC.
Esse é o caso de pacientes com peso corporal aparentemente saudável, mas com alta porcentagem de gordura visceral — condição chamada de TOFI (Thin Outside, Fat Inside). Essa gordura, apesar de não visível, é metabolicamente ativa e inflamatória.
3. Estilo de vida sedentário
Pacientes magros, mas sedentários, também podem apresentar alterações no perfil lipídico. A ausência de atividade física está associada a:
Aumento do LDL.
Redução do HDL.
Aumento dos triglicerídeos.
Além disso, a prática regular de exercícios físicos aumenta a captação periférica de gordura e melhora o metabolismo hepático, independentemente da perda de peso.
4. Distúrbios metabólicos silenciosos
Mesmo em pessoas com peso normal, podem estar presentes distúrbios metabólicos como resistência à insulina, pré-diabetes ou hipotireoidismo subclínico, todos com potencial de alterar o perfil lipídico.
A síndrome metabólica em magros é reconhecida como um subgrupo de risco crescente, principalmente em pacientes com estilo de vida inadequado, estresse crônico, má alimentação e sono ruim.
5. Uso de medicamentos e outras causas secundárias
Diversos medicamentos podem elevar os níveis de colesterol, mesmo em pacientes magros:
Corticoides.
Antirretrovirais.
Anticoncepcionais hormonais.
Betabloqueadores.
Imunossupressores.
Além disso, doenças hepáticas, renais, endócrinas e neoplasias hematológicas podem impactar o metabolismo lipídico.
Diagnóstico e avaliação do risco cardiovascular
O colesterol alto deve ser avaliado no contexto do risco cardiovascular global, e não apenas com base no peso corporal.
Ferramentas como o escore de risco de Framingham ou o score de risco da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) ajudam a estimar o risco de eventos em 10 anos. Mesmo pessoas magras com LDL elevado e histórico familiar importante podem estar em alto risco e merecem intervenção precoce.
Exames complementares incluem:
Perfil lipídico completo.
Glicemia de jejum e hemoglobina glicada.
TSH e T4 livre.
Dosagem de enzimas hepáticas.
Avaliação da composição corporal (bioimpedância ou DEXA).
Condutas e tratamento: o que fazer diante do colesterol alto em magros
O tratamento deve seguir as diretrizes nacionais e internacionais. A SBC e o Consenso Europeu de Dislipidemias orientam que a presença de LDL elevado deve ser tratada conforme o nível de risco cardiovascular, independentemente do IMC.
As estratégias incluem:
1. Mudança de estilo de vida
Adoção de dieta cardioprotetora, como a mediterrânea ou DASH.
Redução de alimentos processados, embutidos e frituras.
Aumento da ingestão de fibras, frutas, legumes e peixes.
Atividade física regular (150 minutos por semana).
Controle do estresse e melhora do sono.
2. Tratamento medicamentoso
Em casos com LDL > 190 mg/dL ou alto risco cardiovascular, está indicado o uso de:
Estatinas (como sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina).
Ezetimiba, como adjuvante.
Inibidores de PCSK9, em casos mais graves ou refratários.
Conclusão
O colesterol alto em pessoas magras é um achado que exige atenção e não deve ser subestimado. O peso corporal não é o único determinante do risco cardiovascular, e a avaliação do perfil lipídico deve fazer parte do rastreamento de saúde em qualquer paciente adulto, especialmente com histórico familiar relevante.
Entender que magreza não é sinônimo de saúde metabólica é essencial para evitar atrasos no diagnóstico e garantir intervenções precoces e eficazes. O acompanhamento médico, as mudanças no estilo de vida e, quando necessário, o uso de medicamentos, são fundamentais para a prevenção de complicações futuras — mesmo em quem tem o “peso ideal”.
Comments