Doença celíaca: quando o glúten vira um problema sério
- medicinaatualrevis
- 17 de jun.
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A doença celíaca é uma condição autoimune em que o sistema imunológico reage ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, centeio e cevada. Ao ingerir glúten, pessoas com predisposição genética desenvolvem uma inflamação no intestino delgado que danifica as vilosidades intestinais, estruturas responsáveis pela absorção de nutrientes.
O resultado é um quadro de má absorção, que pode afetar vários sistemas do corpo e causar desde sintomas digestivos até sinais neurológicos, ósseos ou dermatológicos.
Como o corpo reage ao glúten
Ao contrário da intolerância ou da alergia, a doença celíaca é uma reação autoimune. Ou seja, o próprio sistema de defesa ataca as células do intestino sempre que há contato com o glúten.
Esse ataque contínuo causa atrofia da mucosa intestinal e dificulta a absorção de vitaminas, minerais, gorduras e proteínas — o que explica boa parte dos sintomas e complicações da doença.
Sintomas digestivos mais comuns
Os sintomas variam muito de uma pessoa para outra. Em algumas, os sinais aparecem logo após o consumo de glúten. Em outras, podem surgir de forma lenta e silenciosa, dificultando o diagnóstico.
1. Diarreia e fezes gordurosas
A inflamação prejudica a absorção de gordura e nutrientes, resultando em fezes volumosas, esbranquiçadas, com odor forte e aspecto oleoso (esteatorreia).
2. Inchaço, dor e gases
A pessoa sente o abdômen distendido, com desconforto após as refeições. Esses sinais são confundidos frequentemente com síndrome do intestino irritável.
3. Náusea, perda de apetite e má digestão
O desconforto pode vir acompanhado de náuseas, azia e redução do apetite. Em muitos casos, a pessoa evita comer para não sentir-se mal, agravando o quadro.
Sintomas fora do sistema digestivo
Nem sempre a doença celíaca se manifesta por sintomas gastrointestinais. Em adultos, especialmente, é comum que os sinais apareçam em outras partes do corpo.
Anemia resistente à suplementação de ferro.
Cansaço constante e perda de peso sem motivo claro.
Queda de cabelo, pele seca e unhas quebradiças.
Dores ósseas ou osteoporose precoce, pela má absorção de cálcio e vitamina D.
Problemas neurológicos, como dormência, formigamento e dificuldade de concentração.
Dermatite herpetiforme: erupções na pele com coceira intensa, comuns em cotovelos e joelhos.
Infertilidade ou abortos recorrentes.
Quem pode desenvolver a doença
A doença celíaca afeta pessoas com predisposição genética, geralmente portadoras dos genes HLA-DQ2 ou HLA-DQ8. No entanto, ter esses genes não significa que a doença irá se manifestar. Outros fatores, como infecções intestinais, estresse imunológico e introdução precoce de glúten na infância, também podem contribuir.
É mais comum em pessoas com:
Histórico familiar de doença celíaca.
Diabetes tipo 1.
Tireoidite de Hashimoto.
Síndrome de Down ou Turner.
Outras doenças autoimunes.
Quando investigar
É hora de procurar um médico se você:
Tem diarreia crônica ou alternância entre diarreia e constipação.
Sofre com distensão abdominal frequente, mesmo com dieta saudável.
Apresenta anemia persistente sem explicação.
Percebe perda de peso, fraqueza e desnutrição.
Notou alterações na pele ou sintomas neurológicos sem causa definida.
Tem histórico familiar de doença celíaca ou autoimunidade.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico da doença celíaca requer uma combinação de exames laboratoriais e, em alguns casos, exame de imagem e biópsia intestinal. Importante: não interrompa o consumo de glúten antes de fazer os testes, pois isso pode alterar os resultados.
Exames de sangue (sorologia): anticorpos anti-transglutaminase (tTG) e anti-endomísio.
Exame genético (HLA-DQ2/DQ8): identifica predisposição.
Endoscopia com biópsia do intestino delgado: avalia dano às vilosidades intestinais.
Exames nutricionais: avaliam anemia, vitaminas, cálcio, proteínas e absorção geral.
O tratamento: vida sem glúten
O tratamento da doença celíaca é simples em teoria, mas exige disciplina: excluir 100% do glúten da alimentação, para sempre. Mesmo pequenas quantidades (como migalhas ou traços em utensílios) podem causar inflamação intestinal.
Cortar trigo, centeio, cevada e aveia contaminada.
Usar alimentos naturalmente sem glúten: arroz, milho, quinoa, batata, frutas, legumes.
Evitar contaminação cruzada: usar talheres, fornos e superfícies separadas.
Ler rótulos de todos os produtos industrializados.
Contar com acompanhamento de nutricionista e gastroenterologista.
Diferença entre doença celíaca e sensibilidade ao glúten
Muitas pessoas têm sintomas semelhantes, mas não têm a resposta autoimune da doença celíaca. Isso é chamado de sensibilidade ao glúten não celíaca.
Os sintomas melhoram com a retirada do glúten, mas o intestino não sofre os mesmos danos. Já na doença celíaca, mesmo um mínimo de glúten pode causar inflamação intensa e complicações a longo prazo.
Conclusão
A doença celíaca é uma condição séria, que vai muito além de um simples desconforto digestivo. Ela afeta a absorção de nutrientes e pode prejudicar diversos sistemas do corpo. O diagnóstico precoce e a adesão rigorosa à dieta sem glúten são fundamentais para garantir uma vida longa, saudável e sem sintomas. Se você ou alguém próximo tem sintomas compatíveis, procure um profissional e investigue.
Fonte: Manual MSD
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