Entendendo o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM)
- medicinaatualrevis
- 15 de abr.
- 3 min de leitura

Muitas mulheres experimentam alterações físicas e emocionais nos dias que antecedem a menstruação. Irritabilidade, inchaço, sensibilidade nos seios e mudanças de humor são comuns e fazem parte da chamada tensão pré-menstrual (TPM).
No entanto, quando esses sintomas são intensos, persistentes e interferem significativamente na rotina pessoal, social ou profissional, é preciso considerar um diagnóstico mais sério: o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM).
O TDPM é uma condição médica reconhecida, classificada como um transtorno depressivo no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), e afeta cerca de 3% a 8% das mulheres em idade fértil. Compreender suas causas, sintomas e possibilidades de tratamento é fundamental para oferecer acolhimento e cuidados eficazes.
O que é o transtorno disfórico pré-menstrual?
O transtorno disfórico pré-menstrual é uma forma grave da TPM, caracterizada por sintomas emocionais e físicos severos que surgem na fase lútea do ciclo menstrual (após a ovulação e antes da menstruação) e desaparecem poucos dias após o início do fluxo menstrual.
É um transtorno cíclico, ou seja, seus sintomas reaparecem mensalmente, de forma previsível, e podem afetar profundamente a qualidade de vida da mulher.
Principais sintomas do TDPM
Os sintomas do transtorno disfórico pré-menstrual envolvem alterações emocionais, comportamentais e físicas. De acordo com os critérios do DSM-5, pelo menos cinco sintomas devem estar presentes na maioria dos ciclos, sendo obrigatoriamente um deles
de natureza afetiva.
Sintomas emocionais e comportamentais:
Irritabilidade intensa ou crises de raiva
Tristeza profunda ou sentimentos de desesperança
Ansiedade, tensão ou sensação de estar “no limite”
Alterações de humor marcadas, como instabilidade emocional
Dificuldade de concentração
Diminuição do interesse em atividades habituais
Fadiga ou falta de energia
Alterações no apetite (compulsão alimentar, desejos específicos)
Problemas de sono (insônia ou hipersonia)
Sintomas físicos:
Inchaço abdominal;
Sensibilidade ou dor nos seios;
Dores musculares ou articulares;
Cefaleia;
Ganho de peso temporário.
Esses sintomas devem atrapalhar significativamente a rotina, os relacionamentos e o desempenho no trabalho ou nos estudos.
Causas e fatores de risco
As causas exatas do TDPM ainda não são completamente compreendidas, mas sabe-se que a condição está relacionada a uma resposta anormal do cérebro às flutuações hormonais, especialmente da progesterona e estrogênio, durante o ciclo menstrual.
Essa sensibilidade hormonal afeta os neurotransmissores cerebrais, principalmente a serotonina, responsável pela regulação do humor, sono e apetite.
Fatores de risco incluem:
Histórico pessoal ou familiar de depressão, transtorno de ansiedade ou transtorno bipolar;
Estresse crônico;
Sedentarismo;
Dieta rica em açúcar e pobre em nutrientes;
Tabagismo e uso de álcool.
Diagnóstico do transtorno disfórico pré-menstrual
O diagnóstico é clínico, baseado na observação dos sintomas ao longo de pelo menos dois ciclos menstruais consecutivos. A mulher deve ser orientada a registrar diariamente os sintomas, sua intensidade e impacto na rotina.
É importante excluir outras condições psiquiátricas que podem se agravar durante o ciclo menstrual, como depressão maior ou transtorno de ansiedade generalizada, e que podem coexistir com o TDPM.
Exames laboratoriais podem ser solicitados para descartar causas orgânicas ou desequilíbrios hormonais.
Tratamento do TDPM: abordagem integrada
O tratamento do transtorno disfórico pré-menstrual envolve estratégias combinadas entre mudança de estilo de vida, psicoterapia e, em alguns casos, medicação.
1. Medidas não farmacológicas
Atividade física regular (libera endorfina e melhora o humor);
Técnicas de relaxamento e meditação;
Dieta equilibrada, com redução de cafeína, açúcar e álcool;
Suplementação de cálcio, magnésio, vitamina B6 e vitamina D, com orientação médica;
Sono de qualidade.
2. Psicoterapia
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a abordagem mais eficaz, ajudando a mulher a identificar padrões negativos de pensamento e desenvolver estratégias de enfrentamento.
3. Tratamento medicamentoso
Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), como fluoxetina e sertralina, são considerados primeira linha, podendo ser usados apenas na fase lútea ou de forma contínua.
Em casos selecionados, pode-se considerar o uso de anticoncepcionais hormonais que suprimem a ovulação.
Outras opções incluem ansiolíticos ou, raramente, supressão hormonal com análogos do GnRH.
Impactos e acolhimento
O TDPM é muitas vezes confundido com “TPM exagerada” e subestimado, o que atrasa o diagnóstico e aprofunda o sofrimento. É fundamental que profissionais da saúde estejam atentos ao quadro e que a mulher receba acolhimento, escuta ativa e um plano terapêutico individualizado.
Tratar o TDPM é promover qualidade de vida, autonomia e bem-estar emocional.
Conclusão
O transtorno disfórico pré-menstrual é uma condição real, debilitante e que precisa ser levada a sério. A boa notícia é que há tratamento eficaz, e a jornada para o alívio dos sintomas começa com informação, diagnóstico correto e apoio multiprofissional.
Se você ou alguém que você conhece sofre todos os meses com sintomas emocionais intensos antes da menstruação, saiba que isso tem nome, explicação e tratamento.
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