Esquizofrenia: o que é, causas, sintomas e tratamentos disponíveis
- medicinaatualrevis
- 16 de mai.
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A esquizofrenia é uma das doenças mentais mais complexas e debilitantes da psiquiatria. Ela afeta cerca de 1% da população mundial e, embora seja cercada de estigmas, pode ser tratada com sucesso quando diagnosticada precocemente e acompanhada de maneira adequada.
Ao contrário do que muitos pensam, esquizofrenia não é sinônimo de "dupla personalidade" ou apenas "comportamento estranho". Trata-se de uma condição psicótica crônica que altera a percepção da realidade, prejudica os relacionamentos e interfere diretamente no funcionamento social, familiar e profissional do indivíduo.
O que é esquizofrenia?
A esquizofrenia é um transtorno mental grave caracterizado pela perda do contato com a realidade. Os sintomas principais incluem delírios, alucinações, alterações de pensamento e comprometimento da capacidade de expressar emoções ou tomar decisões cotidianas.
Em geral, o início da doença ocorre entre os 20 e 25 anos nos homens, enquanto nas mulheres tende a acontecer um pouco mais tarde. Casos em crianças são raros. Sem o tratamento adequado, a esquizofrenia pode levar ao isolamento social, desemprego, abandono familiar e até situações de vulnerabilidade, como a falta de moradia.
Causas da esquizofrenia
A causa exata da esquizofrenia ainda não é totalmente conhecida, mas acredita-se que a doença tenha origem multifatorial. Estudos apontam para uma combinação de fatores genéticos, biológicos e ambientais:
Histórico familiar: pessoas com parentes de primeiro grau com esquizofrenia têm risco aumentado de desenvolver o transtorno.
Alterações no desenvolvimento cerebral: infecções durante a gestação, complicações no parto, hipóxia (falta de oxigênio) e baixo peso ao nascer podem estar relacionados.
Fatores estressantes: traumas, perdas, abuso de substâncias ou situações de extremo estresse podem desencadear a doença em pessoas geneticamente predispostas.
É importante destacar que uma infância difícil ou uma "criação ruim" não causam esquizofrenia, embora possam contribuir para agravar os sintomas quando o transtorno já está presente.
Sintomas da esquizofrenia
Os sintomas da esquizofrenia podem se instalar de forma súbita (em poucos dias) ou evoluir lentamente ao longo de meses e anos. Eles se dividem em três categorias principais:
1. Sintomas positivos (excesso de comportamentos):
Delírios: crenças irreais e inabaláveis, como acreditar que está sendo perseguido, que mensagens secretas estão direcionadas a si ou que é uma figura famosa.
Alucinações: percepções falsas, como ouvir vozes (sintoma mais comum), ver ou sentir coisas que não existem.
Comportamento desorganizado: dificuldade para manter uma linha de raciocínio, respostas incoerentes e ações sem propósito.
2. Sintomas negativos (ausência de comportamentos):
Redução na expressão emocional (fisionomia neutra, voz monótona).
Pouca comunicação verbal.
Falta de iniciativa e interesse por atividades sociais.
Isolamento social.
3. Sintomas cognitivos:
Dificuldade de concentração.
Problemas de memória.
Incapacidade de planejar e executar tarefas do cotidiano.
Esses sintomas afetam significativamente a autonomia da pessoa, dificultando sua vida profissional, acadêmica, social e familiar.
Diagnóstico da esquizofrenia
Não existe um exame laboratorial ou de imagem específico para diagnosticar a esquizofrenia. O diagnóstico é clínico, feito por um psiquiatra com base na observação dos sintomas e na história do paciente. Para ser considerado esquizofrenia, os sintomas devem estar presentes por pelo menos seis meses e causar prejuízo significativo no funcionamento da pessoa.
Exames complementares podem ser solicitados para descartar outras causas para os sintomas, como uso de substâncias ou condições neurológicas.
Tratamento da esquizofrenia
Embora não exista cura definitiva para a esquizofrenia, o tratamento adequado permite grande melhora da qualidade de vida e estabilidade dos sintomas. Os principais pilares terapêuticos incluem:
1. Medicação antipsicótica
Esses medicamentos são fundamentais no controle dos sintomas positivos, como delírios e alucinações. Existem diversas opções disponíveis, incluindo antipsicóticos típicos e atípicos. O uso contínuo é essencial, mesmo na ausência de sintomas aparentes.
2. Acompanhamento psiquiátrico e psicoterapia
Conversar regularmente com o psiquiatra permite ajustes na medicação e monitoramento da evolução do quadro. A psicoterapia individual ou em grupo auxilia o paciente a compreender melhor a doença, lidar com sintomas e desenvolver estratégias de enfrentamento.
3. Reabilitação psicossocial
Programas de reabilitação buscam reintegrar o paciente à sociedade, oferecendo suporte para cuidados pessoais, administração do lar, reinserção no mercado de trabalho e melhoria das relações interpessoais.
4. Apoio da família
A presença de familiares compreensivos e bem informados faz toda a diferença no processo terapêutico. Grupos de apoio e educação sobre a doença ajudam a reduzir estigmas e melhorar o convívio com o paciente.
5. Internação hospitalar
Em casos de crise aguda, ideação suicida ou comportamento que coloca o paciente ou outros em risco, pode ser necessário o internamento temporário até que o quadro esteja controlado.
Esquizofrenia e o risco de suicídio
Aproximadamente 20% das pessoas com esquizofrenia tentam suicídio ao longo da vida. A presença de sintomas depressivos, isolamento social e ausência de tratamento adequado aumentam esse risco. Por isso, é fundamental identificar sinais de alerta e garantir suporte emocional e médico contínuo.
Apesar da imagem equivocada propagada por filmes e mídias sensacionalistas, a maioria das pessoas com esquizofrenia não é violenta. Quando tratadas e acompanhadas corretamente, vivem de maneira funcional e sem oferecer risco aos outros.
Convivendo com a esquizofrenia
Com os avanços na medicina, é possível ter uma vida estável e produtiva mesmo com um diagnóstico de esquizofrenia. O autocuidado, a adesão à medicação, o acompanhamento multidisciplinar e o suporte familiar e social são as chaves para o bem-estar.
Aceitar o diagnóstico pode ser um processo desafiador, mas é o primeiro passo para o tratamento efetivo. Romper com o preconceito e entender que a esquizofrenia é uma condição médica — e não uma “fraqueza” ou “falha de caráter” — é essencial para a inclusão e dignidade dessas pessoas.
Fonte: Manual MSD
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