Hepatite C: causas, sintomas e tratamento da infecção viral silenciosa
- claurepires
- 21 de mai.
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A hepatite C é uma infecção viral causada pelo vírus HCV (Hepatitis C Virus), que atinge o fígado e pode evoluir de forma silenciosa por muitos anos. Sua forma aguda, muitas vezes assintomática, pode progredir para a forma crônica, aumentando o risco de complicações como cirrose e câncer de fígado. Estima-se que 71 milhões de pessoas no mundo convivam com a hepatite C crônica, sendo a maioria sem diagnóstico.
Neste artigo, você entenderá como a hepatite C é transmitida, seus sintomas, como é feito o diagnóstico e quais são as opções de tratamento, com foco na prevenção e rastreio precoce.
Transmissão da hepatite C
O vírus da hepatite C é transmitido principalmente pelo contato com sangue contaminado.
As formas mais comuns de transmissão são:
Compartilhamento de agulhas ou seringas entre usuários de drogas injetáveis;
Agulhas não esterilizadas em tatuagens ou piercings;
Transfusões de sangue realizadas antes de 1992 (antes da triagem obrigatória);
Acidentes com instrumentos cortantes em profissionais da saúde;
Transplantes de órgãos contaminados (hoje, muito raros);
De forma menos comum, por contato sexual e da mãe para o bebê.
Em muitos casos, a fonte exata da infecção não é identificada.
Hepatite C aguda: inflamação breve, até 6 meses
A hepatite C aguda é a fase inicial da infecção pelo vírus, geralmente nos primeiros seis meses após o contágio. Em grande parte dos casos, essa fase é assintomática ou apresenta sintomas leves e inespecíficos.
Quando presentes, os sintomas são semelhantes aos de outras hepatites virais:
Febre.
Mal-estar.
Náuseas e vômitos.
Perda de apetite.
Icterícia (amarelamento da pele e olhos).
Urina escura.
Fezes claras.
Mesmo sem sintomas, o vírus pode estar ativo no organismo e ser transmitido a outras pessoas.
O diagnóstico é feito por meio de exames de sangue, que identificam alterações nas enzimas hepáticas (ALT, AST) e confirmam a infecção pelo HCV através da presença de anticorpos anti-HCV e do RNA viral (HCV-RNA).
A presença apenas de anticorpos indica exposição prévia, mas não confirma infecção ativa. O RNA viral positivo confirma que o vírus está presente e ativo no organismo.
Na fase aguda, nem sempre é necessário iniciar tratamento imediato, pois em cerca de 25% dos casos o organismo elimina o vírus espontaneamente. No entanto, iniciar tratamento precoce com antivirais de ação direta pode reduzir o risco de cronificação.
Durante esse período, recomenda-se evitar:
Consumo de bebidas alcoólicas.
Uso de medicamentos hepatotóxicos (como paracetamol em excesso).
Atividades físicas extenuantes durante a fase sintomática.
Hepatite C crônica: infecção de mais de 6 meses
Quando a infecção pelo vírus HCV persiste por mais de seis meses, ela é considerada hepatite C crônica. Essa condição afeta cerca de 75% dos infectados e pode permanecer silenciosa por décadas, até que ocorram danos significativos ao fígado.
Na maioria dos casos, os sintomas são inespecíficos ou inexistentes. Quando presentes, incluem:
Fadiga persistente.
Mal-estar geral.
Perda de apetite.
Desconforto abdominal.
Alterações no fígado já visíveis (cirrose).
À medida que a doença avança, surgem manifestações mais evidentes, como o acúmulo de líquido na cavidade abdominal (ascite), icterícia intensa, sangramentos digestivos por varizes esofágicas e confusão mental decorrente da encefalopatia hepática.
Se não for tratada, a hepatite C crônica pode evoluir para complicações graves, incluindo cirrose hepática — que acomete entre 20% e 30% dos casos —, câncer de fígado (hepatocarcinoma), insuficiência hepática e necessidade de transplante hepático.
A suspeita clínica da infecção geralmente surge a partir de alterações em exames de função hepática, durante triagens de rotina ou na presença de fatores de risco, mesmo que o paciente não apresente sintomas evidentes.
Os exames utilizados incluem:
Exame | Objetivo |
Anti-HCV | Detecta anticorpos contra o vírus |
HCV-RNA (PCR) | Confirma infecção ativa |
Genotipagem do HCV | Identifica o subtipo viral para escolha do tratamento |
Elastografia ou biópsia hepática | Avalia fibrose e presença de cirrose |
Ultrassonografia e AFP | Rastreamento de câncer hepático em pacientes com cirrose |
Triagem para hepatite C
As recomendações atuais indicam triagem para:
Todos os adultos a partir de 18 anos, pelo menos uma vez na vida.
Pessoas que já usaram drogas injetáveis ou inaladas.
Homens que fazem sexo com homens.
Pacientes com HIV ou em hemodiálise.
Pessoas com exames hepáticos alterados.
Expostos a sangue contaminado (profissionais da saúde, por exemplo).
Filhos de mães com hepatite C.
Tratamento da hepatite C crônica
A hepatite C crônica é tratada com antivirais de ação direta, que atacam diretamente o ciclo de replicação do vírus. Esses medicamentos são orais, bem tolerados e com alta taxa de cura (>95%). O tratamento dura entre 8 a 24 semanas, dependendo do genótipo viral, histórico de tratamento e presença de cirrose.
Após o tratamento, é realizado novo teste de HCV-RNA após 12 semanas. Se negativo, considera-se que o paciente está curado.
Pacientes com cirrose continuam em rastreio para câncer hepático a cada 6 meses, mesmo após a cura virológica.
Prevenção da hepatite C
Embora a hepatite C seja uma infecção viral com tratamento eficaz e altas taxas de cura, a prevenção continua sendo a principal estratégia para conter sua disseminação, especialmente porque ainda não existe uma vacina disponível contra o vírus.
A infecção está fortemente associada a comportamentos de risco relacionados ao contato com sangue contaminado, o que torna essencial o cuidado em ambientes de saúde, práticas de higiene pessoal e educação sobre fatores de exposição.
A seguir, destacamos as principais medidas preventivas que ajudam a reduzir significativamente o risco de transmissão do vírus da hepatite C:
Não compartilhar agulhas, seringas ou objetos cortantes
Evitar tatuagens e piercings em locais sem higiene adequada
Uso de preservativos em relações sexuais com múltiplos parceiros
Profissionais da saúde devem seguir protocolos de segurança para manuseio de sangue
Triagem de doadores de sangue e órgãos
Ainda não existe vacina contra o vírus da hepatite C.
Conclusão
A hepatite C é uma infecção grave, mas silenciosa, que pode evoluir para quadros de cirrose e câncer hepático se não tratada. A boa notícia é que, com os antivirais de ação direta, é possível alcançar a cura em mais de 95% dos casos. O diagnóstico precoce e o rastreamento populacional são as principais armas para conter o avanço da doença no Brasil e no mundo.
Procure seu médico, faça a triagem e, se necessário, inicie o tratamento adequado. A hepatite C tem cura — e quanto antes for identificada, melhor.
Fonte: Manual MSD
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