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Infecção Urinária Infantil: é possível encurtar o tratamento antibiótico?

A possibilidade de redução da duração do tratamento antibiótico na infecção urinária infantil: um dilema analisado


A possibilidade de redução da duração do tratamento antibiótico na infecção urinária infantil: um dilema analisado


A recente pesquisa sobre a diminuição do período de antibioticoterapia de 10 para 5 dias em crianças acometidas por infecções do trato urinário (ITU) trouxe à luz uma complexa consideração. Embora os resultados tenham revelado maiores taxas de falha terapêutica nesse encurtamento, os autores do estudo não hesitam em sugerir que a abordagem possa ser viável para pacientes que apresentam notável melhora clínica após o quinto dia de uso dos antimicrobianos.


Um olhar sobre a importância da infecção do trato urinário infantil


Entre as febres mais comuns em crianças com menos de cinco anos, as infecções do trato urinário (ITU) ocupam a terceira posição, superadas apenas pelas enfermidades gastrointestinais e respiratórias. Tendo em vista que as ITUs podem dar origem a complicações sérias em pacientes pediátricos, identificação precoce e o tratamento eficaz se tornam pilares fundamentais para mitigar eventuais sequelas a longo prazo.


Nesse contexto, o estudo denominado SCOUT, recentemente publicado no periódico científico JAMA Pediatrics e conduzido por pesquisadores ligados à University of Pennsylvania e à University of Pittsburgh, lançou luz sobre a eficácia da antibioticoterapia com duração padrão (10 dias) e a de curta duração (5 dias) em pacientes de 2 meses a 10 anos diagnosticados com ITU.


Explorando os detalhes do estudo


O estudo assume a forma de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo e voltado à não inferioridade. A amostragem envolveu 664 crianças (com idade variando entre 2 meses e 10 anos), todas com diagnóstico de ITU e que receberam prescrição de um dos cinco antimicrobianos mais utilizados: amoxicilina + clavulanato, cefixima, cefdinir, cefalexina ou sulfametoxazol + trimetoprima.


A inclusão dos participantes ocorreu dentro de um período de dois a cinco dias após o diagnóstico, sendo que um critério de entrada era a manifestação de melhora clínica, como confirmado por consulta médica. O predomínio do sexo feminino entre as crianças e a idade média de quatro anos foram características observadas na maioria dos casos.


O critério de melhora foi estabelecido como a ausência de temperatura registrada igual ou superior a 38°C nas 24 horas que antecederam a consulta. Em seguida, as crianças foram aleatoriamente designadas para um dos dois grupos do estudo (duração tradicional vs. duração reduzida) numa proporção de 1:1.


No grupo da duração reduzida, os participantes passaram a receber placebo após o quinto dia do ensaio. O acompanhamento compreendeu duas consultas subsequentes com profissionais da saúde: a primeira ocorreu entre os dias 11 e 14, enquanto a segunda teve lugar entre os dias 24 e 30 após o diagnóstico.


O desfecho primário do estudo foi definido como falha na intervenção empregada, isto é, a ocorrência de ITU sintomática nos dias 11 a 14. Já os desfechos secundários envolveram ITU após a primeira consulta de acompanhamento, bacteriúria assintomática, cultura de urina positiva e colonização gastrointestinal por microrganismos resistentes.


Uma análise atenta dos resultados


Os resultados da análise revelaram uma taxa de falha terapêutica de 0,6% no grupo submetido à duração padrão do tratamento, comparada a 4,2% no grupo da duração reduzida, apontando para um desempenho mais satisfatório da terapia de duração convencional. Ademais, as crianças tratadas por um período mais breve demonstraram maior propensão a apresentar bacteriúria assintomática ou cultura de urina positiva na primeira consulta de acompanhamento.


É relevante destacar que, entretanto, o estudo não revelou discrepâncias significativas entre os dois grupos no que tange às taxas de ocorrência de ITU após a primeira consulta de acompanhamento, à identificação de eventos adversos e à colonização gastrointestinal por microrganismos resistentes. Essas constatações sugerem que a duração da antibioticoterapia não exerce influência substancial sobre tais fatores.


Uma perspectiva ampliada sobre o estudo SCOUT


No editorial que acompanha o artigo científico, Milstone e Tamma observam que "o estudo SCOUT representa uma adição notável à literatura científica e pode fornecer orientações para a tomada de decisão compartilhada entre profissionais de saúde e cuidadores primários."


O estudo se destaca por diversos aspectos, como o amplo tamanho da população estudada, sua diversidade, critérios rigorosos para o diagnóstico das ITUs e avaliação da resistência microbiana. Por outro lado, é importante reconhecer algumas limitações, tais como o leve desequilíbrio na quantidade de crianças excluídas da análise primária entre os grupos de tratamento, bem como a ausência de dados acerca das cepas de uropatógenos identificadas. Milstone e Tamma também apontam a falta de diferenciação entre cistite e pielonefrite, bem como a variedade no uso de diferentes agentes antimicrobianos. Além disso, a disparidade nos intervalos de acompanhamento pode ter introduzido vieses nos resultados.


Os autores do artigo enfatizam a necessidade de "dados comparativos mais específicos para a pediatria, a fim de embasar recomendações acerca da duração ideal do tratamento com antibióticos."


Em última análise, o estudo SCOUT oferece uma nova perspectiva sobre a duração do tratamento antibiótico na infecção urinária infantil, proporcionando insights relevantes para a prática clínica e a tomada de decisões médicas informadas. A busca por um equilíbrio entre a eficácia terapêutica e a redução da exposição antimicrobiana continua sendo um desafio constante no âmbito pediátrico.

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